domingo, 16 de junho de 2019

Última aula

Assistindo em sono profundo
À lição que nunca se esquece
Procuro a não linearidade
Como se a tivesse que aprender

Se me custa, sobra mais
Sonho em ver a mestria
Pequena e quase única
Inesquecível e inevitável

Pelo meio
O orgulho do enfim
E um novo príncipio

Baía do cansaço

As águas límpidas escondem o fôlego artificial de quem mergulha
Sabemos que sobem mas não como nem onde
Será que emergem?
Será que a caverna os engole?

Uma dor fantasma assola o silêncio da adrenalina
Que, ao longo de braçadas, teima em se reduzir a nada
Será possível sobreviver sem trincar o suor?
Será que o sangue ainda circula entre mim e o azul?

Ao fundo, o mar escondido na arrogância do desespero
Descobre qualquer um na sua pertença disfarçada

domingo, 1 de outubro de 2017

Lembrança de dois

Por dias cinzentos e mares azuis turquesa
Navegam dois, remando em sincronia
Com o sorriso diário inesgotável
E a vontade - sem qualquer esforço - de ouvir

Sobem paredes por quem criaram
Sempre com um ombro profundo e amigo
Em que nos erguemos, orgulhosos
E tentamos retornar a infinita dádiva

Guardamos connosco, para perdurar
O cheiro completo que emana do cuidado
O toque suave do olhar atento

Não é só uma memória mas uma vivência
Essa lembrança de dois
Vós

sábado, 5 de novembro de 2016

Juventude no fim

Volvidos anos, mas poucos,

Um túnel assombroso quebra
Fazendo tremer todo o pedaço escuro de vida
Sobra a gíria de momentos que já passaram
E que incomodam até quem possa ver

Olho pela parede, do chão até ao tecto
E vejo que o branco já não é duro
Duvido se cairás ou se a tua força vem das raízes

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Tríptico desorganizado

Suster a arrogância em ti
Traz o caos a estado líquido

Em mim, mas por ti

O atrevimento do sorriso falso
Pela suave e esbranquiçada mentira
Não perdoa a imodéstia que me arrepia

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Um a um

As pedras da calçada que escorrega
Soltam-se e ficam à mercê de um pé
Que ao ser meu, pontapeio e aí se enrolam

Todas se vão e não foi isso, nada disso
Que te passei em jeito de lição

É que por mim não aprendo
Mas por ti me surpreendo

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Típico

Tipicamente escrevo palavaras
Normalmente destilo sinónimos
Invariavelmente descoordeno (as mãos)

Por norma, rodopio sobre o que balbucio
E não articulo mais do que preciso
Para dentro ficam as vozes
Para fora os silêncios

E o fogo que consome cresce
Daquele que arde e se vê

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Onde está?

Levantem-se e caminhem!
Porque estão quietos?
Há tantos e muitos à vossa volta

Não preciso de todos,
Mas lembro-me que no fundo do saco
Só passava percebido um

Onde está?

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Entre montes e montanhas

Pelo vale do quotidiano, surge o sol atrás das montanhas
Vai subindo, lentamente, como pestanas ao acordar
Ritmado, curva o céu
E aí o agarro

Se me escapas, bicho!
Atinges o pico onde marco o ponto
E recomeças o movimento

Descendo, acompanho-o livre pelos montes do horizonte
Imito sem sucesso a sua cor com um sorriso amarelo
O ocaso vem e também eu me desvaneço

Volta, vem, liberta-me!

Se me vou

Se me canso, não descanso enquanto não me vejo
Se me vejo, não quero nada que não tudo
Se me tenho, percorro todos os caminhos até encontrar o inexplorado

Sentado à lareira, o fogo consome o ar e a terra
Bebo da sua vontade e sofro do seu ardor

E por aí, me vou

domingo, 27 de dezembro de 2015

Ao fundo

O legado de deixar uma herança
Suplanta a vontade de presentear-me com um futuro
Incomoda, inquieta e provoca a insónia
Do incauto sonhador de pequenos passos

As pernas que me movem sujam-se com remendos
De pedaços de vida - morta, lutadora mas esquecida

Os bocados, os deixo; estendei a mão, aí estão!

Fragmentos

É mais uma peça que se encaixa no horizonte
Que ao fundo se desfaz e reconstrói em tempos infinitesimais

É mais um, o que nunca esqueço,
Que me assola e redescubro

Vagueio pelo tempo, sem saber que é também espaço
O que ocupo é o que me limita, creio
Mas sei que o que me abraça é só o que perdura

As escolhas que fazes

Se há pedaços de fio que queimam ao ver,
São os que imagino que incendeies sem temer
Com mestria julgas a tua própria indecisão
Sem saber nunca se essa é a minha opinião

Irritas e afagas com as mesmas poucas palavras que proferes
Entranhas cérebro dentro nada a não ser o que queres
Mas será que desejas ou apenas cobiças?
É que apenas vejo inveja, medo e as minhas mãos submissas

Escolhes e fazes as escolhas que fazes

Junção

Pequenas e obtusas
As operações sucedem-se na frente escura do sono
O sonho bate à parte, mas não entra;
Soma-se uma pedra a um cordel
E divide-se o novelo do leito

Venha, a multiplicação
Dos dias e das magias
Subtrairei pela bondade se por aí houver vontade

domingo, 30 de agosto de 2015

Nota pequena

À margem do texto quantitativamente esfuziante
Mas sem teor nem conteúdo
Sobra, amorfa, a ortografia

Eis que surge a nota mínima
De trocas sem valor nem ardor
Canto de folha, pedaço de papel
Conténs o mundo, destróis babel

Assim falas tu

A raiz é a mesma mas sobra espaço
Para no pouco para e no menos pouco
Se sentir a distância da infância
Foram as mesmas e já não são
Ganharam-se avisos de fortes não
Estamos perto e longe
(quem sabe em diferentes melancolias)
Com e sem barreiras
(porventura em distintas categorias)

Quando digo eu que tu falas
Falo que não expressas nem confias
Cai, vem! Eu dobro; tu soltas-te?

Nunca contente, jamais feliz

O pendor não pára de aumentar
Pela insegurança que evapora do teu ser
A falta de apoio brilha com estrondo
E a incerteza sublinha letras tortas

Se escreves, não lês
Se páras, não vês
Se ouves, não escutas
Se vives, não lutas

Não é tristeza nem frieza
São ondas de oceano revolto
Que te apanham desprevenida embora consciente
Do que és e já não queres ser
Sem nunca vir a saber o que é viver

Retiro de diferenças

A subtileza da paz no mundo interior de cada um
Nasce no rio que brota da montanha inigualavelmente alta
É ténue e quase imperceptível, por vezes
Dura e áspera no fechar da frente branca e luzidia

São pães e rosas e milagres
Que sustentam o tabuleiro da ponte
A que criamos para se atravessar

Se a realidade revolver em tômbola solta mental

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Pássaros

Como animais de jardim zoológico, cantam
Sendo livres, também exploram
Conseguindo voar, tem o seu olhar
Não tem vontade nem problema em esperar

Bichos tristes e seres de alegria!

Ganhar a vida ao mundo

No fulgor do sucesso
Não há tempo para parar a rotação
Acompanha-se com um arfar exasperante
E pontualmente crepita-se uma pequena alegria

As lutas são voltas
E cada volta é um empurrão
Giramos connosco e com o mundo
A cada dia, a cada lua azul, a cada translação

Estranhos à mente

Imagens lúcidas no comboio bamboleante
Avistam-se à minha frente como fotografias de arrasto

Será que já conhecia quem ali está? 
Há mais de 30 segundos ou
É alguém que encaixei no fundo?
(de uma boneca russa de suaves memórias)

Saboreio a esquisita comida cerebral
E deixo-me levar pela meditação e pelo desenroscar de parafusos
Mesmo que não fale e apenas reconheça
Desperto-me para a possibilidade
De o rosto ou o corpo ser tão familiar como inesperado

Início

Sendo um em muitos, sou nenhum em todos
Partícula no conjunto da imensidão
Surgi e brotei do vazio, juntando-me à massa de vidas

Nascer é um milagre ateu
Em que a probabilidade - ínfima - joga aos dados
E o azul que sai desafia o vermelho

O ar consumido desperta a voz escondida
E solta-se o grito, sussurrando ao vento
Vem, leva-me para o futuro

domingo, 12 de julho de 2015

Às paredes me peço

Por nós, os vesgos, quem sois?
Cada um de vós abusa da própria boa vontade
E distribui migalhas suculentas

São pequenos pedaços de ternura que afagam o ego
(embora nunca iludam o cínico ou afugentem o estóico)
São pontos nunca sem nó que caracterizam a amizade leal

Vejo, abraço e recebo
A cada parede, de tijolo ou pedra, não peço mais
Do que me dá, deu e quer dar

Peço quem sou, a mim, por vós

Rejeição paramétrica

Ponto a ponto de um conjunto de nós
Procuras o que não sabes ser inútil e apenas cardinal
Com símbolos pujantes e escritos quase ao acaso
(na tua consciência?)
Vacilas entre A e B quando não há nenhum conjunto sem ser o vazio

São parâmetros, rapaz.
Um dia vais percebê-los a todos;
Podes descartá-los ou aceitar com resignação
Quem sabe até te vanglorias de ti com eles!

E logo de seguida
(talvez meia hora depois)
Já os esqueceste na letargia tecnológica

domingo, 19 de abril de 2015

Série confusa

Variância peripécia trambolhão
Probabilidade eficácia análise
Esperança minudência indeterminação

Crença ciência infinidade
Vazio equação hipótese
Atenção descuido observabilidade

Demonstração zero limite
Tangência normal manipulação

Confiança ao vento

Numa brisa desesperada sopra a solidão
A inveja segue, afoita, do passado que não é meu
Perde-se a consciência num desmaio desnecessário
Pelo que não se é e pelo que não se foi

E se há momentos em que a luz aparece, tímida
São fugazes, efémeros e assustadores
Pois sopra o vento na desconfiança e leva os momentos perdidos

domingo, 29 de março de 2015

Expectativa

Pode-se ou não se pode esperar pelo se
Não há meio termo na esperança fútil em que nos banhamos
Constroem-se apenas castelos de cartas de areia que vemos e derrubamos

E quando o quase assalta, ou se tenta ou se desiste
Se esperávamos o bom/mau e vimos o mau/bom
Há a luta interna de cada um
A gestão da preferência
O pendor pela inutilmente alta
Expectativa

Luz amarelada

Almas perdidas no meio do fumo
Das que existem num corpo ou fluem numa mente
Não as sinto - nem nelas me revejo - por não fazer parte de tal conspiração

Mesmo assim e assim mesmo, sou e reconheço-me no mesmo ambiente
De sabor variável e balas disparadas do ar
Que perfuram lentamente o crânio dançante

O futuro está presente e o passado é agora
Num momento só em que não há uma bengala dourada
Sobra só o torpor inacreditável dos raios catódicos

Não sei se vou por essa rua sem pensar duas vezes
Mas penso nada enquanto faço de mim boneco típico
De uma cidade que sinto tão minha e carismática como cinzenta

Espero que não percebas; não quero, no entanto, subtilezas!
Preciso de mim sem mim como agora, assim
No meio de uma sala escura de luz amarela

E se há sacanas dessa ou doutra - qualquer - cor, que venham
Invadam sem piedade o espaço enevoado
Pois se vêm sacanas, também se verão anjos

Do rebuliço que quero saber se quero ou se pelo menos sei que posso
Quando o tenho ou não tenho pelo não ou pelo inércia
Sinto falta e deambulo pelo quotidiano tépido

domingo, 1 de março de 2015

Felicidade transitiva

Operação momentânea de alegria ou dor
Seja pela linha temporal ou pelo acaso espacial
O éter irreal que invade o sonho é nosso
Por contágio positivo ou antítese espiritual

Palavras de veneno

Dito o triste com ironia
Sobe para cima o cínico com alegria
Da janela a mensagem é podre, vã e vil
Tão sincera e simples como dolorosa

A seiva que escorre do discurso
É tão pobre quando o rol é estéril
Ou rica quando mel goteja da língua ondulante

O veneno, esse,
Seja bom ou mau
Com ou sem antídoto
Está sempre presente

Vista ligeiramente diferente

Vê como vejo: consegues?
Duvido e acerto na dificuldade
Percebo uma fracção de ti
Deixo de lado uma parte tão clara como escura

Quero saber mais, sim;
Mas estranho-me por vezes
A volta que dou e que me é cara
Ilumina de relance apenas

E tu, quando vês, procuras?
Não sei se sim, se alguma vez ou porventura
Mas sei que não vemos o que somos a não ser de esguelha
E que sabes que é confuso o futuro que procuro encontrar

domingo, 18 de janeiro de 2015

Soltar

Laços presos em forma de país recôndito
Formam-se ao longo de dias
(quer soalheiros quer chuvosos)
Somam-se a mim de modo desigual
Juntam-se ao mundo sem qualquer visibilidade

As pernas avançam quando arrastadas
Pela rede inexplicável de forças aos pares
Empurram o corpo, que balança
Pela estrada estrelada, feliz

No início, no meio e no fim
O que está preso em mim respira
Soltando-se no éter de ar frio

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Tempestade ou voz?

Ruim, o desejo que assalta
Quando a perfeição das gotas se mostra
Pela janela, pelas roupas ou pela pele
A onda de fulgor, de tão grande, abate-se

Tens uma voz inigualável neste mundo
Enquanto ondulas pela presença
E deambulas pela ausência

Mas estás e és som, único

Lista ou rol?

Sabendo que sabes de mim
O que eu não sei de ninguém
Disparo balas de vácuo
Sem som nem rasto

Juntas e agregas;
mas poderás alguma vez ver sem sofrer?
Já o fizeste - sem dúvida - em tempos idos
Quando o equilíbrio não atingia o precário
E o papel era pano

O que fizeste e fazes é insubstituível
Como um pedaço de carne do meu corpo
E por isso não posso agradecer
Mas devo venerar, respeitar e viver-te

domingo, 5 de outubro de 2014

Número qualquer

Dois, três ou mil!
Que interessa ser ímpar quando se procura a paridade?
Querer ser primo e não ter hipótese
Ao dividir em pleno plano irregular

São números e são estrelas
Pequenos pedaços desenhados no firmamento cerebral ou na abóbada celeste

Somos nós!

Ruas

Ruas sujas, cinzentas e perdidas por entre vielas
Carregam aos ombros galerias de arte falsa
Ou há monos ou há obras-primas
Mas há sempre uma conversa de interpretação

Não interessa escutar e pensar
Mais do que entreouvir e retorquir
No meio de sons tão indistintos como sempre presentes
Sem possibilidade de reconhecer mas tão familiares

Passear de copo em fumo e brasa
Enquanto o chão vibra e o sono não assalta
Aumentando sempre o contraste entre o ecrã e o olho
Tentando nunca perder o brilho da luz difusa

domingo, 7 de setembro de 2014

Vida de ferro

Circulando pelo imaterial, sente-se única
Glória dos tempos de vapor que ainda sobe
Seja pouca gente ou muita carga
Acredita que cumpre com fidelidade a sua função

Não desprezo que o faça
Não suporto que o simplifique
Sem uma mínima explicação

Ponto e pressão

O toque gentil de uma conversa
Seca a boca de quem não se vê pleno
Desperta dúvida, com o ombro a suportar o olhar cauteloso
Efémero, afasta o desespero diariamente inútil

Aí estás e sofres
(não porque sofres mas porque assim te vês)
E aumenta-se o contraste ou pressão
Se baloiças de olho para olho um brilho diferente
Pois mostras outra face
(a das novas - quase não formadas - memórias)

E se retorno, espero e encontro
A rotineira escolha que não é só minha
Mas também não é a tua:
é um ponto dúbio, quiçá curva selvagem
Não é nunca só de alguém
Pode ser um dia de ninguém

Conforto

É (três vezes) cómodo e casual, o par que se formou
Será que sentiste a brisa calma que mal se levantou?
Ou passa por ti como uma partícula que se desconhece?

Estou em querer crer que não és imune
À espera pelo que aí vem
Mas sabe que se te sabes, pensa como quem o faz bem

Estranho

Sendo estranho sinto quem sou
Por onde passo, onde vivo e onde estou
Quero ser cidadão do mundo, com ele um

Luto comigo mesmo e não pertenço a lugar nenhum
Luto contigo, mundo, mesmo que não respondas nunca
Páro e recomeço, atirando-me a mais um poço sem olhar bem o fundo

Estranho - diferente ou deslocado
Perco-me na rede que me formei
E catalogo, acredito, mais um nó

Calor

Corpos de mil cores pintam uma época curta
Dobram-se em formas de luz plena e água tépida
Não perdendo nunca o objectivo
De sugar o sangue quente e viscoso do ar que condiciona

Pois quando arrefece, quebra
Sobrando só a lembrança daquela estação
Que insiste em demorar a voltar

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

No meio, a virtude

Se pensas que sabes que escrevo o que penso
Não sabes mais do que imaginas pelo que digo
E ao dizer confundo ou simplifico?
Não sei, mas aparentas saber
Será que pensas tão rápido e claro
Como a água de uma cascata longínqua

Duvido-te e duvido-me
Mas sei que muito tens e nada descartas
Mesmo quando o horizonte desaba

sábado, 26 de julho de 2014

Colapso mente voz

Destino inexistente tens tu, som comum?

Descendo pela calçada irregular e pulsante
Escorrega lentamente ao sabor da brisa de perdição
Proveniente da reflexão irreal
Produto de uma alucinação natural
Solta-se e sobe pelo ar
Ou prende-se e desce pelo poço da memória

Constante variável

Não sei se me contradigo
Nem se sequer faço sentido
Isso não me pára, mas devia
Nem que por um instante

para rever o que talvez uma vez tenha
visto ou
escrito ou
ouvido ou
descrito ou
sentido

Dedos ao vento

A força que sopra pela pele e osso
Satura de estrelas o breu inevitável
Remove as impurezas do nosso corpo celeste
E o sustenta sem piedade ou gratidão

Entre os espaços preenchidos de dinâmica aérea
Vivem moléculas perdidas de sabor
Mas plenas de vida
Curta, longa; desperdiçada, completa?

O eterno poder de decisão
Acalenta a mente
E sobressalta a alma que em mim - qual sôfrego - não existe

domingo, 29 de junho de 2014

Sete distâncias

Não sendo luz, tenho lanterna
Vejo com ela os passos que dás
A caminho do mundo, sem medo

Cais, levantas-te e sorris
Tens cada um à tua volta
Com uma precisão de amigo

Que não esquece

o respeito
a diversão
o fulgor

Sempre em frente, pedal a fundo!

Sem título

Suavemente tremendo
Nego o dúbio
Num piscar de olhos
Renego a tudo

E, moribundo,
Desfaço o que encontro
Nunca sem antes cumprir
O dever da ignorância

sábado, 28 de junho de 2014

A braços

Sempre de língua de fora
De baloiçar em elevar
Sorrindo sem dentes

Sem saber, crescendo, renasce;
E tritura pedaços de vida carne
Sem sangue que não o do mundo

A grandeza domina e logo
A criança se assusta
Mas o (seu) céu, um deles, não se verga

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Dusk and dawn

Dim lights paving the way
Wonder and joy sparkling all over
Here comes the night

And the darkness fades away
When the sun rises
Blessed bolt, awakening thunder

East and West
North and South
The center lies still as it always has and always will

Limbo

Baloiço quebradiço sem crianças
Girando sem parar pelo ar
Obedeces a alguém? Nunca!
Soltas-te em direcção ao Sol? Jamais!
E na eterna incógnita jazes
Pendurado e só

sábado, 14 de junho de 2014

Lá longe

Purificação pelo som
Distância temporal grande mas não eterna
Afastamento físico tão duradouro quanto efémero
Atenuação subtil da tristeza

Pequenas cordas, vocais ou entre latas
Seguram pontos de luz estonteante
E o murro no estômago da lembrança
Do tempo que foi e já não é (mesmo sendo ainda criança)
Não surge como opção nem fôlego

Pois há descanso na habituação
À tendência da morosidade e do sono
Desnecessário, impreciso - e logo inquietante

E a incerteza relança o fogo
Que não arde nem se vê
Acontece, apenas

domingo, 1 de junho de 2014

Contradições

É certo e mais que certo
Que dentro do errado está o inseguro
Trazer um não ao ar
Revela-se tão simples como lançar um sim ao vento
E num pedaço de fogo temperamental
Nasce água sem fim
Não há fumo nem acalmia
Não há montanhas sem maresia

domingo, 25 de maio de 2014

Sem cortina

Não há filtro no cigarro fumado depressa
Não há vagar nos raios de luz dispersos
Não há divisão possível que não seja um muro até à estratosfera

- Olá!
- Bom dia.
- Abres a cortina, por favor?
- Estas janelas nunca tiveram cortina!

Corners

A million corners exist for a thousand people
When the road each one chooses
Lies ahead with dim lighting

Oh, spinning world
So (too) much a rhombus with faint edges

Ser à vista

A lembrança e os sonhos de quem nos viu, mostrou ou acompanhou
A procura interminável de um lugar longínquo
A certeza da escuridão das luzes nocturnas da cidade
Quais itens de lista sem lembrete

Perante tal
e
Assim mesmo

Mostra e sê, ao longo do tempo
Quem à vista desarmada és
Esconde a tua opacidade na luz
E não pretendas que és pleno de faces escuras

Funil

O líquido que escorre pelo plástico
Endurece até não mais poder
Sabe quem é na sua sua solidez
E pertence a si mesmo

Cada cabeça, cada funil

domingo, 13 de abril de 2014

Marcha

Desalinho rápido numa troca de olhares ou palavras
És discórdia ou diferença?
Subtileza na qualidade e quantidade, celebremos o eterno e o efémero
Quando é importante

Quando (e se) estremece

Movendo montanhas e subindo escadas
Cada um a seu passo e, invariavelmente,
Com o seu ideal de cobertura estelar - para lá de universal
Celebram-se momentos e prestam-se tributos
Transformam-se outros e deixam-se marcas inolvidáveis
Não há mais que o acaso, para mim
Respeito-te: para ti, é(s) a tua fé

Quando quando quando

O toque subtil das palavras levanta um véu de incerteza
À medida que detalhes se revelam e peças encaixam
Duvido; acredito; quero; nunca; sigo; páro

A nudez é assaltada pela roupa que pode servir
E até ficar bem, por uns quaisquer padrões aleatórios
Mas quando se mergulha, para que são precisos acessórios? 

Escolher palavras

Dizer que é estúpido é desnecessário
Tal como infeliz pode ser irresponsável
Mas ou claro - porquê ou pois

Não desde criança, pelos que o educam
Silêncio de adolescência, como assim?
E o sim no futuro ou a incógnita

Quando há o dizer de acreditar e acreditar que dizer
Vem a certeza que os os dias continuam

12

Não há diferença entre este e o próximo
São
12 voltas
12 toques
12 passos
Tempo para respirar o ar daqui ou
de longe (de memória ou frasco)
Cozinhar sem esforço
                       nem primor
Um vício, ou dois, para mil
Durante e perante
12

Custo de vida

Quanto custa navegar por estas águas?
Basta uma licença, um barco e vontade?
Provisões, bons ventos e pretensões?

Pergunta! Pergunta!
E agora responde:

atravessar um oceano custa tanto mais quanto menos cais (em ti)
se é nisso que acreditas, não faças a viagem
nunca te descobres se não te tens como tu
sê completo na tua finitude
seja ela o mundo ou a perdição

Onde? Longe

Saudades encapsuladas em distância
Em telefonemas curtos
Em vídeos sem toque nem cunho
Cortam sorrisos próximos

O que se evita incomoda por vezes
Quando se padece momentaneamente
Da doença da falta, da distância, do toque

Traçado um rumo, não há vacina nem cura
Fumos ocasionais, em desespero ou em sinais
Raios de Sol que aquecem por dentro mesmo com a (própria) pele dura

Estilo de vida

Perdido em ruas, o ar e aspecto e visão
Surge

pedante
radiante
preocupado
aberto
feliz
contente
perdido
achado
esbanjador
poupado
infiltrado 
exposto

Temporário? Inconstante

Castelo

Os elementos assustam quem os enfrentam
E assim construir serve de caminho
Outros, porém, confiam na direcção de destruir
De que vale proteger quando não se pode atacar?

O constante balanço entre frente e retaguarda
A instantânea desilusão do eterno meio das tropas
Há conforto e valor, espada e escudo

Uma amálgama de olhares sobre e em cada castelo

Valley

Oh valley, sweet valley
Why do you hide between the mountains?
If I were shaped as you
Would I feel the warmth of the sun?

When the light shines and strikes directly
Do you believe it will last forever?
Can you capture the beams through the mountains?

Mountain, valley, mountain
There are no plains lying around
For us to stay (put)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Próxima paragem

Momento de conclusão temporária, quando chegas?
Quando darás lugar a um novo alento?
É eterno o teu vagar?

São ciclos de longas passagens
Com (in)finitas - refrescantes ou frustrantes - paragens
Balanços coordenados interrompidos por viagens

domingo, 19 de janeiro de 2014

Be

Be free
Be wild
Be gentle
Be kind

Follow the river named
(by and after you)
Caress the stream
Draw your path
Make it to the banks when you need

You are what lies between
The mountain top and the base of a hill
The ground and the stars
You and yourself, many years from now
Be, forever, unique

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Projectos

Idealizar, arquitectar, conceber, desenvolver, gerir
Com ou sem modelo de gestão
De vida, de trabalho ou de prazer
Do passado, no presente ou para o futuro
Com ou sem lucro financeiro
Sempre com margem para aprender
Com fim ou sem nunca acabar

Chamando-lhe projectos, criem-se
Diários, registos de memórias e anos de partilha
Revisitem-se para o júbilo (mesmo com saudade)

The world is ours

Outfitted with a travel guide
Or simply set out to wander
You can come with me
Let's fly, ride and drive
We can

discover
see
change

the world, as one

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Encanto

Não há como o teu
Não há como o meu
Somos iguais mas somos diferentes
Inspiramos o mesmo ar
Mas expiramos o que sentimos

Com palavras soltas, juntam-se frases
Com pedaços de realidade, constroem-se episódios
Com o fluxo do tempo, percorre-se um caminho

De magia

Treetop

While the wind blows, I watch its power
The leaves bend to its will, and so do the branches
Those on the treetop stand straight and will not fall
They might want to fly, but they have roots to answer to

I know you are there

I can feel the warm reflection of my words on yours
I believe that the light ahead is not only a mirage
I see you here, there and everywhere
And even if I stumble, I will not fall

I know you are there

domingo, 10 de novembro de 2013

Tentative lyrics for a song

Give me a reason to listen and
Find the hidden words in the sentences

Bringing the sound
Making it clear
Playing around

Can these verses be what you will hear?
Or will the tune tear it apart?
All syllables left behind

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Believing

When I say
When I do
When I feel
When I smile
When I frown

Believe in me: that is me.
Believe in us: this is us.

We,
As one (and brighter that the Sun),
Shine.

Enquanto dormes (3)

Nao durmo,
Não me distraio,
Não penso.

Talvez escreva, mas
Sem calor nem frio,
Sem fulgor ou vazio.

Inerte estou, 
Sem resposta fico,
E comigo o silêncio.

Enquanto dormes (2)

O cabelo que cruza a face bela, adormecida
Em sonho que reflecte, no teu respirar
A incerteza de uma tarde que
(ainda) não compreendo.

Algo descai e logo ajusto; acordarás?

Escutar

Ouvir o que não se quer e
Lembrar (o que se recorda sem querer)
Pois houve e há, como lembrança
De perda, nulo ou ganho
Mas de luz negra

Com mais calma

A correria, universo, porquê?
Os estragos em todos por nada
O tempo gira como uma esfera
Não há como controlá-lo

When your head hurts

When your head hurts
Deep in your sleep
Shallow in your day
Don't stop; keep on

thinking
walking
imagining
feeling
dreaming

Wind gusts

Your hair sparks a revolution
In the air that the sound wants
But, oh!, the wind blows
Trying to finding peace of mind
Inside a gust that you don't allow

You, your hair, the sound and wind
All together (now) flow

Exercício (ou exaustão)

Pelo vazio do espaço atreve-se
O cansaço a ser exaustão
De um pequeno passo
Surge um grande tropeção

Sorte, destino, fé? Não!
Acaso, probabilidade, resultado: revolução!

domingo, 6 de outubro de 2013

Outra, nova luz

São uns minutos de espera
Intensa como outros voos
Que passam lentamente
E se demoram a esgotar

Ao fim, palavras surgem
Limpam grande parte da incerteza
Empurram por uma escada
Que, mesmo tropeçando, caminha até ao Sol

E da luz vibrante que emanas
(mais do que o próprio astro)
Bebo com sofreguidão

Somos um, cada um
Mas vivemos nós
E temos uma nova, outra luz

Uma para nós!

sábado, 7 de setembro de 2013

Entre as nuvens e o Sol

No alto do alto do topo de montanhas infindáveis
Vive o ar rarefeito que alimenta todo o pouco animal que sobrevive
Picos que são escarpas iluminam o gás, que renasce

Há nuvens e há Sol; entre eles,

Tu, qual
   céu limpo
   água cristalina
   fogo vivo
Tu; e apenas tu

Mundos escuros

Faces sombrias à chegada!
Alerta; porquê?
Estive apenas à luz:
   a reflecti-la
   a unir os raios de cada um dos dois
Não se conseguem iluminar?
Ou pelo menos espreitar através do clarão
   que agora irradio
Falai!

Regresso

Revejo lugares que nunca vi;
   apenas sonhei
Percorro momentos a teu lado que nunca concebi;
   apenas imaginei
Rumo ao futuro sem uma sombra que nunca o foi;
   apenas limitei

Inesperado

Ao encontrar uma delonga de melancolia
Procurando um sorriso, nem que fugaz, na companhia
Rodeia-me o ar bucólico pleno de uma estranha magia
A paisagem surge então por todo o lado
Pergunta? Vens, claro que vens
Ou não existisse limite a ser explorado
Pela explosão, pelo retorno, pela explosão

domingo, 1 de setembro de 2013

Selo

Uma carta sem selo é enviada
Percorre o seu trajecto com outras
Mas não com o remetente

Segue até ao seu destino
E ela própria é a destinatária
Dum conteúdo infindável e inesquecível

Não há como colocar lacre em tais palavras
Pois elas formam um texto que se
renova
modifica
evolui
Um envelope e um selo, sim:
Pela - e por isso apenas - força do vento

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Bittersweet

The bittersweet flavor stems
From the blowing wind
Like the smoke in the air
Fleeing from the dust

Recalling the distance and the mysterious (in)difference,
The action follows and is followed by the reaction
A sense of belonging appears
Making one feel as if there is no chance of fitting

Believing that what will happen
Or whether is there a purpose
Brings as hard a thought
As the laughter unexpectedly heard

Put me to the test and
There might be success or failure
For a while there might be movement
But for sure there will be evolution

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pedaços de (alguma) natureza

Perdido em vales de frescura imensa
Rio, tu nasces!, por entre pedras e plantas
Segues o teu caminho sem olhar para trás

Em montanhas, desfiladeiros e escarpas
Há a luz!, que se observa em curvas e contra-curvas
Fugaz, invades e te dispersas com a perspicácia só tua

No meio de campos de infindáveis planícies
Tantas direcções (te) surgem, girassol!
E tu, obstinado, sempre com a do Sol

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Invisível

Desaparecer nas sombras
Sem ser visto 
Pois quem vê não olha mas
Trespassa

Há halo, há eclipse
Pela luz ou pela sobreposição

e a
tristeza (daí e não só)
decorrente

Repetir

Insistir numa tecla morta
Não vale tanto como tocar uma corda partida
Descobrir que o som não surge
Ao não haver respeito

Iterar, iterar e iterar
Até obter o valor da espera

Divagar

Pelo futuro
Pelo horizonte
Pelas metas e pelos rumos
Pelo querer, poder e viver
Pelo estar e não estar
Pelo manter e não perder
Pela vida
Pelo acaso
Pela companhia
Por quem nos quer
Por quem queremos

sábado, 27 de julho de 2013

Oportuno

Toca o telefone, a horas ainda não desapropriadas
E do lado lá responde uma voz familiar e esperada
Há uma pergunta, um indagar e um desejo
Surge uma resposta, simples e difícil

Para quê ser oportuno quando se pode ser surpreendente?

Cabeça! Garganta! Estômago!
Profundo nó

Sharing

What should not be shared
When there are such strong feelings?

What is there to show without showing
When too much is never enough?

What is too little thus not worthwhile
When the smallest detail is stuck in the back of my head?

t r u s t

At a distance

So close and yet so far!

The voice over the distance,
Embarked on a journey and an adventure,
Speaks of the risk taken.
Taking and being taken for granted, 
From centimeters distance to hundreds of kilometers away,
Is just to be present while absent.

the chase, the thrill, the nostalgia, the struggle, the catch

Espaço

No meio de milhares de mihões de pessoas
Foco-me naquela que ocupa o espaço meu
Que deixa tudo não levando
Que marca, sempre

Os outros, que ocupam uma sala diferente
Podem ver-se barrados por uma parede
Mas não és tu que a ergues nem eu que não a desfaço
Somos nós que não a vemos pois ela não existe a não ser no que "era" de outros

Entre todo o contacto
Muitos interessam
Mas só um é

especial
único
sublime

Dinâmica

Amigos e amigas
Dos melhores aos piores
Os que estão mais perto e os que mais distam

São demasiado?
São quase nada?
O que são?

Não sei o que são
Porque quem sabe não sabe quem são
Mas quero saber sabendo por ti

Ao sabor do movimento

domingo, 21 de julho de 2013

Laço de flores

Guardo numa arca robusta
Imagens fugazes mas eternas
Percorro pelo laço as flores
Que me assaltam de surpresa

Um toque, um abraço, uma dança
Juntam-se sem fricção à memória
Que tenho do momento e conservo
Não para recordar sem voltar a sentir

E ainda, ao escutar mil músicas que procuro organizar
Não para ter mas para ouvir em repetição contínua
Perco-me; no som que associo àquela imagem

Pormenores

Os detalhes que importam
Fogem como pássaros assustados
Mal se desvia um passo para o lado (errado)

Os momentos que (por vezes) escapam e que
Não são - mas porquê? - gravados, pelo menos,
Numa palavra, imagem ou sensação

Os restos que irritam
Despoletados por feitios e manias
Entristecem e desmotivam - sem necessidade

Mas!
Recordemos, respeitemos e saudemos
Todo
Qualquer 
Pormenor

Caos

Apesar do silêncio,
Há caos.
Vejo no sorriso que não existe após

uma notícia
uma tristeza
umas palavras duras

Em ti, sim.
Em mim, sem dúvida.
Em nós, para quê?

Is there a limit?

Maybe,

there is a limit to where we see
there is a limit on who we mock
there is a limit for breaking (and entering)

But can you truly have a limit?

Imagining
Loving
Breathing
Smiling
Feeling
Going
Finding
Keeping
Burning
Wanting
Exploding
Staying

Living

Ondas

Flutuar, dedilhando, em ti
Em tranças que não existem
Por raios de luz acastanhada ou loira

Mergulhar, de cabeça encontrada,
Em águas cristalinas
Por marés infindáveis

Ouvir, sem filtro,
Em confusões ou silêncios
Pelo doce sabor da voz sem qualquer tique mecânico

Ondas!

Errado

Será correcto pensar
três, mil vezes
antes de falar?

O lugar da espontaneidade não é errado
em ti
em mim
em qualquer um que imagine

Não pensar
Não sonhar
Não imaginar
É conceber em si uma prisão
Como se se tivesse cometido um crime
Ou pecado por pecar
Por ter errado, aos olhos ou mentes ou sensos comuns de alguém

E, assim, penso
Não errada nem correctamente
Zero, vinte, duzentas vezes
Imagino, crio, faço acontecer
Imaginamos, criamos, fazemos acontecer

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Surpresa

Um sorriso sem palavras numa sala escura
Preparada para a ocasião sem sequer ter sido tocada
Vale tanto mais que milhares de metros
Pois expressa aquilo que não se pode escapar

Surpresa!

Partilhar

Bocados de pão, pedaços de doce, copos de líquido
Emprestam-se
Dão-se
Dividem-se
Escolhe-se a quem se dá e olha-se a quem nos pede

Vidas longas, histórias compridas, momentos únicos
Juntam-se
Contam-se
Partilham-se
Escolhe-se a quem se dá? Olha-se a quem nos pede?

Gira, mundo nosso, com a tua gente genuína

Enquanto dormes

A sono solto e com claridade residual através da persiana mal fechada
Passeias pelo mundo dos sonhos, dançando
Com que sonhas? Sentes que estou ali, a teu lado?

Inalo e respiro-te; exalo e sinto-te.
Tenho a sensação que emanas calor e frio ao mesmo tempo
Que és fonte de luz mesmo de olhos fechados

De repente, toldam-se meus olhos sobre si mesmos
Mas sem antes te escutarem no silêncio da noite escura
E assim, enquanto dormes: sonho e adormeço e vejo

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Carta

(negro em branco gasto, com algo mais)

Ir e Voltar, Vir e Retornar

Ir -
Como não querer deixar de ir, quando nos esperam?
Mais! Esperamos que nos esperem
Não queremos deixar à espera quem quer (como nós) que vamos

Voltar -
Perdendo o medo, a garganta treme
Propaga aos olhos, à face e aos neurónios todo o seu frio
E tornamos atrás com a frente lavada

Vir -
E há momentos em que ansiamos por uma vinda
Vindoura em tempos, ou prestes a acontecer
Mudos como uma pedra, rejubilamos

Retornar -
Na alvorada de luz solar, cinzenta pois é reflectida
Quem nos deixa vai e não pode ficar; ou pode?
Deixamos tudo nas mãos  da velocidade, e reiniciamos.

A música que flui

Dos corpos que dançam ébrios
Foge a música que ribomba nas colunas gigantes
Reflectindo nas bolhas criadas inocentemente pelos que não vibram

Por vezes, uma figura ímpar surge;
Dança, treme, baila
E aí a música - não toda, mas quase - encontra refúgio

No corpo em que a música flui

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Espera

Aguardando por um toque
Anseia-se mas não se desespera
Procura-se a calma no turbilhão
Sobrepõe-se a vontade à espera

Quem vem, virá
Quem está, estará
E o acaso da delonga não é mais
Do que uma onda no oceano

Que não separa

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Lidar

Uma situação não é mais que um mero acaso
Um encontro entre palavras, olhares ou contactos
Mas um sorriso mostra tudo; e quando, por vezes,
se esconde, como abrir de novo a arca pesada?
Sei que posso estar, falar ou explodir

E
no entanto
não é isso que quero:

Só me interessa o fluir único, sem destino mas
com inesgotável
sentido

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Até ao nascer do Sol

Quando no horizonte a luz raiou
E por todo o lado se espalhou
Já para mim era dia
Tal era o modo como o teu olhar reluzia
Nascendo o Sol, o corpo estremeceu
Pelo frio que o calor repentino desvaneceu

E tudo à volta era magia
Na forma de cada bocado que se fazia
De imaginação, de loucura e de alegria

terça-feira, 11 de junho de 2013

Escala de espontaneidade

Repentino e fugaz como um olhar desviado
Uma acção sofre de um pensamento prévio
Não é nada mais do que natural;
Não é nada mais do que uma vontade.

Saber à partida, nem que por um milésimo de segundo, (o) que se sabe,
Destrói a criatividade? Não;
O que é espontâneo é-o sem necessidade de o ser
Pois nasce de dentro do cérebro inimitável de cada um

Cabelos

Cabelos à solta ao vento
O trompete soa a ouro no fundo da cabeça
A rua dança, a baía brilha e as estrelas mostram-se
E no silêncio de uma música há olhos que se encontram sem se ver, e reluzem

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Par

Acção e reacção
Como evitar?
Não, não há escapatória;
Uma traz a outra.

Palavras doces tornam-se duras
Pontos quentes arrefecem ao vento
E a noite toma o seu verdadeiro tom de negro

E se uma foge, a outra alcança
Se outra desespera, a outra espera
Quando uma incendeia, a outra apaga

Amarelo

Palavras que não são ditas
Fazem-se acompanhar de um sorriso amarelo
Ecoam no silêncio que consome
E entram em combustão, sem saber como

Numa alma que não existe
Há um pilar que oscila sob ensaio
Mas não rompe nem quebra

Vem, luz amarela do carro que
Ziguezagueia a alta velocidade
Por curvas tortas e imprecisas

Encandeia!

Lampião por entre as árvores

Uma luz no escuro alumia
O chão pisado pelo ar
E por quem não passa

Um arvoredo viçoso
Teima em quebrar o raio artificial
Mas a luz mostra-se, com suas milhentas cores

E ignora o pouco espaço por onde passa

Cintilante

Um pequeno rebento de planta
Submerso, a não ser por um pouco,
Por terra imunda e escura
Cresce, a traços largos,
Fura o ar com a sua vontade e entusiasmo

Despedir-se-á, um dia, da flora e fauna
Que sempre o rodearam com diversos olhares

Explodirá, qual supernova
Cujo brilho não é visível ao longe
Mas que lá está, esteve e sempre estará

sábado, 1 de junho de 2013

Ânsia

Quero chegar sem demora
A um lugar que desconheço
Posso, aí, ser feliz?

Caibo na arca que mostras aberta
Pelo menos em sonhos estranhos
Mas há quem duvide, como eu e tu

E tudo gira continuamente
Num sentido ou no contrário
Não há como parar;
Só se pode ansiar.

Raio de Sol

Raio de Sol
8 minutos é demasiado tempo
Porque estás tão longe?
Quero-te aqui, já, sempre

Raio de Sol
Queimas, assas e ardes
Castigas;
Não podes deixar de o fazer

Raio de Sol
Por entre plantas e prédios
Vem!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Rainhas nas entrelinhas

Movendo-se por quaisquer casas,
Há, por todo o lado, rainhas.
Cercam peões que tentam, um dia,
Se transformar em algo mais

Limite

Num desassossego de umas palavras que não ouço
Há uma inquietação bidireccional mas desequilibrada
O contraste de cores e brilhos salta à vista
E o limite surge, nunca sendo só o céu

E forte é, que dói
E fútil é, que exaspera
E saudoso é, que entristece

Histórias numa história

Uma história que mal começou
Pode um dia ou nunca acabar
Mas como um fio num novelo
A cada momento tem um inevitável desenrolar

Dentro dela, há pequenas partes.
Histórias em si mesmo
Reais, irreais,
Fantasiosas ou naturais!

De ouvir para crer
Ou de acreditar por temer
As histórias que habitam uma história
São momentos

únicos
partilhados

e
(um - qualquer - dia)
relembrados

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Sol por entre as árvores

O astro esconde-se a caminho do horizonte
Liberta o seu último fulgor no que chamamos hoje
Muda de cor a seu bel-prazer
Pois sabe que o amanhã é garantido

Mas a nós nem ele nos garante
Que o calor continue a brotar dos nossos corpos
E que a electricidade flua pelo nosso ser físico

Sol, ou nada.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Loucura

Ser louco é ser fiel a si mesmo
Aos neurónios, aos impulsos
Tomar uma direcção com toda a força das ondas
E navegar pela água de mil cores
Pintando-a com o (nosso) próprio tom

"Quando me dizem: "vem por aqui!" (...)
Nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar (...)
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam os meus próprios passos (...)
Eu tenho a minha loucura! (...)
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

Criar

A criatividade que espanta
E que é peça essencial,
Roldana, engrenagem, motor
Do mundo que gira
Tem forma de teia de aranha
Sem prender mas envolvendo
Liberta, voa, catapulta
Em mentes sãs (ou não)
(em corpos sãos (ou sim))

É o poder real que quem tem e o sabe
A ele não mais aspira com voracidade
Usa-o, antes, para explodir em velocidade
Para viajar sem rumo mas com meta

E o vento, incessante e forte
Torna-se numa brisa ineficaz
Ajoelha-se perante o raio de Sol
Que refracta, reflecte e aquece

domingo, 7 de abril de 2013

Era uma vez

Contando histórias
Partilhando fumo
Bebendo à saúde irónica

Um bar, dois bares, quantos mais?
A música faz sentir e lembrar
E nem mesmo a memória triste
Ou o acaso infeliz
Apagam a luz de qualquer história

Daquelas que começam (sem se saber como acabam)
por "Era uma vez..."

Crianças grandes

Qual a necessidade de ser grande quando já se foi criança?
Envelhecemos, vivemos, criamos memórias
E a criança está lá, sempre viva e atenta
Olha-nos; distorce-nos sem darmos sequer conta
E o que queríamos ser, se não somos
Não é mais do que um travão de ser grande
Que a qualquer momento

pode
deve
tem de

ser fustigado pela inocência de sermos, termos sido e sempre irmos ser

crianças
(pequenas ou grandes)

sábado, 30 de março de 2013

Disposto?

Preparado e confiante
Um rapaz segue a sua mente pelo mundo fora
Vai sozinho? Pode ir, mas nunca o está
Nunca o esteve mesmo quando só esteve consigo

E se alguém o acompanha
Vai sozinho também, porque o é
Mas partilha, descobre e explora

Regista;
assimila;
vibra!

Fluidez

No meio do fumo e do barulho
Os anos passam e as vidas mudam
De modo, de estilo e de estado

Mas há sempre oportunidade para caminhar um pouco
Não para trás, mas para a frente
Porque a conversa nasce

Como antes escorria
e sempre fluiu

quarta-feira, 27 de março de 2013

Silêncio (2)

Cai um raio na terra
E me sobressalto com o silêncio
Que o trovão, ao não vir, traz

O silêncio, se pela indiferença, muda
Cala, arrepia e gela

Toque

Toque de campainha
Alguém à porta, que pretende?
Uma entrada de rompante
Ou um panfleto de deitar fora?

Toque de classe
Andar e não cair
Com ou sem apoio
Do alto, com vista para o mundo

Toque de mãos
Relaxante e necessário
Benefício na pobreza
Energia, calma e destreza

sexta-feira, 15 de março de 2013

Fio condutor

Num emaranhado duma rede
Cada um tem o seu fio que o conduz
A ele se agarra e se deixa levar
Ou ele se enrola e faz caminhar

Cada um, cada qual
Tem o seu fio, que pode ou não conhecer
Mas ele existe no meio da rede
Mais ou menos entrelaçado

O fio condutor é uma planta
Que recebe luz e a processa
Mas o resultado dessa fotossíntese
Cada um, cada qual, pode ou não aproveitar

domingo, 10 de março de 2013

Por uma noite

Uma noite, uma estrela que brilha
Mostra a sua luz ao homem que caminha só
Mas não está abandonado; além da estrela,
Pulsam os neurónios do seu cérebro inebriado
E assim, sente, pelo menos por uma noite, que vive

sábado, 9 de março de 2013

Blocos

Pedaços de vida sem ânimo
Ligam-se e operam
Quais máquinas de uma fábrica
Sabem o que fazem

Blocos, que seguem instruções

Desenhar

Como pegar num lápis se a mão não responde?
Como fluir no movimento se a psicose atrasa?
Como olhar para o branco e não ficar estarrecido pela inveja?

São linhas, formas e figuras
Que se expressam sem desenhar
São sonhos, manias e ilusões
Que atacam sem cessar

Crepúsculo

Já não é madrugada mas ainda não é manhã
Surge no meu sonho uma cara vagamente familiar
Mas ao mesmo tempo longínqua

O sorriso pergunta-me: "Como vais?"
As feições convidam e pergunto-me se quero
Quero? Quis, já não quero nem posso

São pontos nos is que já não existem
Demasiadas barreiras se elevam sem piedade
E, mesmo assim, o rosto pontua o sonho

Peso

Leve como pedras de uma água
As mesmas que na calçada se pisam
Peso diferente, maior, e, ah!, a robustez

Um camião que passa pesa e passa
Pesado, como o mundo e as vidas
Que com ele e nele giram

Pesamo-nos e deixamos que nos pesem
Ligamos a balança electrónica mal acordamos
E sem sentir, julgamos

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Lembrança

Não é mais do que escrevo
Nem tanto que me sobressalte
São relâmpagos sem trovões
Botões sem casa

E, assim sendo, desaparecerão.
Por isso, os vou deixando escritos
Não por minha vontade mas só

e apenas

pela qualidade, efémera, do que foi e já não é

Versos emprestados

Estar tão longe e tão perto ao mesmo tempo
Pedir proximidade sem julgar distâncias
São utopias ou realidades?
São manias ou vontades?

E, mais a mais, o que tenho
Não é mais do que uma letra na cabeça
Que me recorda e assalta

"Quem vem e atravessa o rio (...)"

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Encontrar sem procurar

É um esforço em vão saber quem sou
Quando não sei quem és
Mas vale a pena se o mundo se move
E um encontro casual pode surgir

Da luz!

Olhos

Fechavas as portadas com delicadeza
Adormecias numa cama pré-aquecida
Dormias profundamente sonhando e vivendo
Acordavas e via teus olhos de um azul inesperado, quente e esplendoroso

E tu, também? Companhia para tanto
Mas a uma distância tão grande quanto necessária
Ah! Os olhos!
Os teus, uma pequena parte da tua beleza ofuscante

Numa tristeza recente dizias que não podias conversar
Mas falavas, com entusiasmo
Largavas um pouco de saber e inocência
Com olhos tristes mas reluzentes e soberbos

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Formas

Será disforme o que não é belo?
Não eras bela mas tinhas toda a forma
Sobretudo quando te movias ao som da música
E tornas-te musa

Será belo o que não é disforme?
És bela mas estás longe, cada vez mais agora
Cavas e cavalgas distâncias e não passas de uma alucinação
Como se fosse possível acender todas as lareiras do mundo com um só fósforo

São formas que nos distinguem
Que nos marcam e torcem como uma corda vazia
À espera de ser atada

sábado, 22 de dezembro de 2012

Solstício

Nas pegadas de um monstro
Cabem saídas e abandonos
Voam luzes e vontades
Planos, quereres e amizades

Há uma luz negra que, agora, no inverno, brilha
Não ilumina ou alumia e só escurece o pensamento
Essa luz, criadora de solidão
Poderá ela ser uma ilusão?

De braço dado com a luz, espera-se numa sombra
Largando-a, descobre-se um mundo novo que
É totalmente incerto. Espera-se, não, quer-se, então

(ou procura-se se houver audácia)

alguém.
Que apareça num raio transformador e exultante.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Miséria ou sonho?

Duma miséria de sonho
Partido em dois e por isso intenso
Cobre-me uma camada espessa de angústia
Que já não é real pois há

Quem sorria e ilumine
Seja ao longe, ao perto
Rápido e inocente, rápido e deliberado

E assim, miséria há mas o sonho
Ah, o sonho
A suplanta

Ah, tu!

Ah, tu
Que com falsos altos mas plenos saltos
Desfazes qualquer ilusão de prazer
E ao mesmo tempo colides no tempo e na vontade

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sabes?

Saber quem sou
Entre quem sabe quem tem
Não é mais do que encontrar alguém
Que sabe quem é e quem sou
Mas é mais do que perguntar quem és
Quão árduo, quão duro

Triste?

Rodeado

A inveja assalta-me
Fugaz mas eficaz
Não me consigo conter
Mas nada contra consigo fazer

Onde estás tu, que és minha?
Porque não danças em mim?
Quero-te, odeio-te talvez
Mas desejo-te

E tento, sem sucesso?,
Procurar-te

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Salto

De uma só vez chego com atraso ao pleno ar
Perco-me na noção de tempo e de espaço
Tento ficar, mas gravito logo retorno
Sem esplendor mas também sem horror

Vento

Corre uma brisa pelas ruas
Atormentada por chuva pequena que a irrita
Desafiada por pessoas cobertas de tecidos
Mas vencedora de folhas, ramos e estações

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Capa

Preciso de uma capa sem argolas
De ser um super-herói sem o mostrar
Quero uma capa para iluminar
O que escondo sem querer

Dispersão

Ideias vagueiam pelo cérebro desordenado
Pousam por vezes em lampejos de fulgor
Levantam, destroem, fazem vibrar e adormecer

Palavras soam a pouco de tão longe que estão
Mesmo perto, são distantes
Não se ouvem, emudecem, fazem despertar e lembrar

Músicas de alguém sobre alguém
Associam-se com rapidez ao momento, à pessoa e ao lugar
Surgem em sonhos, desconcertam, acalmam e abrem portas

Sofrer

Quem sofre, dói e faz doer
A quem repara e a quem não nota
Não falar traz ainda mais sofrimento
Interno, doloroso, constante

segunda-feira, 12 de março de 2012

Marcas

Pedaços que doem
Sobras que não acabam
Monstros que de sonhos nem de dias ou noites desaparecem
São marcas indeléveis

Tentar apagar, acabar ou esquecer
É difícil; inútil? Nunca!
Como a calçada duma rua
Por mais pedras que se calquem
Por mais passos que se gastem

Há sempre uma estrela que brilha
Não é esperança nem lembrança
É o futuro

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Porta

Fronteira de espaços que és
Não mudas de mais um pequeno número de estados
Abres luz e fechas escuridão

Procuro-te, porta. Dá-me acesso ao que ocultas
Deixa aparecer a novidade.

Dança

Dançar, tu dançavas
E ao olhar eu tremia
Do esplendor que reluzias
Do movimento incessante e coordenado
Ao som de nada ou ao som de tudo
Sem descuidos, com fantasia

Tu dançavas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quando não estás

As luzes apagam-se e o reflexo não existe
Só a sombra sobrevive e nela habita o vazio
Não há vontade, não há um olhar sorridente
As costas arrefecem pela distância e

A ausência dói.

Glória

Cobrir-me-ás um dia, glória?
Quem conta contigo, com pouco se desilude
Saber onde estás confunde-se com um labirinto
De muito difícil saída

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Jogos de luzes

São linhas incompletas, aquelas que me guiam
Têm início sem fim
E silvos de um instrumento
Conduzem os meus pés

Mas é a luz que se dispersa
Que tanto foge pelo canto do olho, para trás
Como se afasta, ao longe e ao fundo

O arrastar da escuridão nada pode
Nem é
Perante o jogo de luzes

Paraíso

Na Terra, apenas.
Promessa de encanto inebriante
Condição atrás de condição, forja-se o caminho

É ele, o caminho, o paraíso?
Ou só à chegada se saboreia?
Não. Não. É agora
(a novidade)
Que desconcerta e ilumina

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Sem forma

Sem forma nem conteúdo
Escrevo e descrevo
Uma entidade sem descrição
E é possível? Sim, torna-se
Meu e logo teu

Assim o queiras
Assim me permitas

Problemas

São problemas que me atormentam
Mas são eles que me fazem viver
São problemas que se pudessem
Não eram mais do que um esmorecer

O que sou, sem problemas,
O que sou, sem caminhar

Eu? Ou outro que não eu?

Musa

És minha musa mas nunca o podes ser
Inspiração para cortar pelos dias sem esmorecer
Cobras a tua conta com outras escolhas
Mostras a tua face, o teu cabelo, o teu estilo
Que me lembra e faz lembrar do que não tenho
E já não quero, porque não é a ti que quero

És minha musa mas nunca devias ser

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Alusão a ti

Escolhe-me a mim e
Diz o que pensas
O que mais te apoquenta e
O que faz feliz

Tira-me desse lugar recôndito
Onde escondes o que é teu
Vem, volta, recomeça

Faz de mim aquilo que és e
Aquilo que não sou

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nova aparência

Uma aparência nova ou renovada
Surge perante os meus olhos
Como um pedaço de fruta nova
Ou uma parede branca pintada de fresco

Mas ilude? Pode fazê-lo,
Pode mostrar aquilo que não é
Mas também não sei o que será

É apenas uma aparência. Uma
Amostra de cor, luz e som
Uma amostra de pessoa

Nulo

O que é nulo transtorna
Prolonga no tempo o problema de o ser
Estraga vontades e causa desgostos

Mas sendo nulo, é belo

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Memórias felizes

Vazio de recordações de alegria?
Não, nunca,
Mas não sempre
Porque o que é feliz marca pouco em mim

E o mundo gira na mesma.

Memórias tristes

Fácil é acumular lembranças
De tempos difíceis ou complexos

Lembrá-los faz vibrar
Como um ponte desgovernada

Vivê-los faz desdenhar
O que não é triste noutros

Seres
Lugares
Neurónios

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Numa parede

"Nascer, trabalhar, morrer" é
Escrito numa parede
E derrota quem lê
Como uma espada domina outra

Dito por não dito,
O espaço que se invade
É perdido ou perdição

E largando-o, não se sabe nunca
Onde ele pára ou recomeça
Pois não se acredita

Livre e pronto

Desprender, soltar, saltar
Largar e deitar fora
O que sobra ou é fútil

Libertar, esvoaçar, sair
Criar ou recriar
O que não tem fronteiras

Desamarrar, cortar, fluir
Montar e sobrevoar
O que se desmorona

terça-feira, 1 de novembro de 2011

São novas, estas sensações

Não há modo de explicar
O nó que se dá no estomâgo
Nem o nó que se forma na garganta
Nem mesmo aquele que pés trocados fazem

No entanto, há uma forma de mostrar
Que o que sinto não sinto,
Não é meu mas teu
E é novidade

Mas não adoro eu
A Novidade, a Beleza e o Universo?
Ah, sim! Sem dúvida que são
Nós em mim

Fria

Veni, vidi, vici
Mas não, não conquisto.
Sou conquistado por uma mão gelada
Que me toca com desprezo

E conversas ecoam ao longe
E ribombam em mim
Como trovões numa noite dessas

Mas são lamúrias tristes
Que me engolem e paralisam
Como o teu adeus, que não é quente;

Que não existe

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Não são reais

Não são reais

As palavras que escrevo
Os sons que ouço
As imagens que vejo

São vistas sobre um oceano
São barulhos de uma concha
São rabiscos na areia

Destino

Destino em que não acredito
Deus que não reconheço
Fujam de mim
Não se prendam como uma aranha prende uma borboleta

Mas tu, Beleza, fica

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Afronta

É uma vontade inegável
Aquela de responder ao que não tem resposta
Porque não teve de ter ínicio

Mas teve fim
Um fim em mim

Que não é o fim, pois se prolonga e demora
E pesa como uma rede de nós duros

Como a tirar? Sem

a

front

a

Silêncio

Silêncio avassalador que destróis e corróis
Porque pairas sobre mim?
Porque vibras como uma ponte perdida
E saltas de neurónio em neurónio?

Terrível és, silêncio fazes
E perdes, ganhas
O quê?

Solidão?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Estrela

É uma estrela que foge a outra
Que faz cintilar e brilha

É uma estrela que sustenta o negro
Que ofusca e gira

É uma estrela que faz girar
Esta Terra que não é nossa

Toldado

Capturado pela inércia,
Vagueio ao longo de um caminho
Ao largo de um curso de água qualquer
Até ao fim

Mas qual fim? Há algum?

Há fim, sem fim, a toda a minha volta
E à volta de tudo o que faço girar

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Desprezo

O horror destilado
Na cara de quem vê
Não com olhos, mas com o sabor
E sente um travo amargo desnecessário

Desprezo

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Becoming

Becoming something
In the way she moves

Knowing how to become something
While she watches

Believing and

becoming

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Palavras ao vento

Palavras ao vento
Largadas sem discrição
Flutuam pelo ar
E galgam correntes

São palavras
São momentos
São palavras

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um caminho

Descobrir

Um caminho

Percorrer avenidas de incerteza
Não acreditar em saídas

Mas com um sorriso
Há entradas e sabores
Que não se esquecem

Que indicam

Que mostram

Um caminho

Árvore

Árvore que ondulas
Ao sabor da esquisitice dos teus ramos
Porque te perdes na luz?
Porque te perdes no verde?

Ondulas
Como o vento deseja e

é

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Olhares

Olhares cheios de malícia
Que queimam como um dedo apontado
A luxúrias sem fim
E sem destino

A menos que sejas tu
E aí, sim,
Procuro-te num destino

domingo, 29 de maio de 2011

A memória de uma fotografia

Traz-me à memória um sabor espesso
Aquela fotografia em que se riem, dois

Uns dois
Que não são mais que dois mas que podem e são uns

Porque há uma fotografia
Porque há uma memória
Há uma vontade, presa na

fotografia

Preciso

Preciso

De qualquer coisa de novo, a toda a hora
A qualquer momento preciso de um movimento

De um preciso fulgor que me agarre e revire

Preciso

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pf votem! Please vote!

Olá a todos,

Por favor votem na QMoS! Basta:

- ir a http://www.tv.up.pt/videos/F49zqt59
- clicar em baixo, em LOGIN ou REGISTE-SE onde se lê "Efectue o login ou registe-se para poder comentar!", para fazer login ou completar o registo
- adicionar o vídeo aos favoritos clicando no coração ♥ e depois em "Adicionar"

Para alguma dúvida pf contactem-me ou vejam http://iup25k.up.pt/tutorial-iup25k.pdf !


Pf espalhem também esta mensagem!
Obrigado!

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If you need any help (I know, it's in portuguese) let me know!

Please spread this message!

Thank you!

--
Bernardo

domingo, 28 de junho de 2009

A cada passo

A cada passo que dou, pontapeio um bloco de ar de arestas, faces e vértices transparentes mas nunca invisíveis. O bloco sobe e inspiro a sua essência; devolvo-a mais tarde, mais à frente, sem piedade. Só a poluição satisfaz o mecanismo de funcionamento!

terça-feira, 9 de junho de 2009

I find myself

I find myself reviewing
An event where rage
As strong and hard as never before
Overwhelmed every other feeling

Be it joy, envy or loneliness
There I was, hating every step
Of the process with neither
goal
nor
plan

I find myself with no means
To justify this end
Or this (re)start

domingo, 31 de maio de 2009

Há um vestido que nasce do meu pensamento

Se há um vestido que esvoaça
Há uma cabeça que se vira
Se há cabelos ao vento
Há fantasias de verão

Se nasce uma dança
Nasce um sabor de frescura
Se nasce uma sede numa garganta
Nasce quem a tire, a toda a hora

quarta-feira, 20 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Destruído

Destruído

por dentro e por fora

um contorcionista faz nele próprio alterações



temporárias, mas estonteantes

sábado, 9 de maio de 2009

Sem rei nem roque

Podia estar a noite toda a escrever, ansiando pela altura de centrar uma ou outra palavra e mexer em botões em vez de letras. Mas não sairia, garantidamente, mais do que sairá agora. O fluxo destas coisas é em mim desordenado.

Não há caos, mas também não há ordem. Pelo meio, subo pelas paredes do meio da ponte. Onde há um daqueles tolos que não conseguem saber para que margem se dirigir, embora o saibam lá no fundo da caverna cerebral.

É ter medo e não ter sede de procura. Avançar gruta dentro e girar por entre estalactites e estalagmites, ziguezagueando ao som de músicas deste século, do outro século e de qualquer século.

segunda-feira, 9 de março de 2009

As voltas do mundo

Sem querer, não sou eu
Querendo, também não
E as voltas que o mundo dá
Que querem elas, que não páram

Quero e quero-te
Mas quero que me queiram
Aqui, agora, sempre

domingo, 8 de março de 2009

Sem horas

Escrever sem horas entusiasma-me. Adoro olhar para o relógio e dizer "que se lixe" e continuar a trabalhar, ou seja, pesquisar e criar. Daí, quero que se passe o mesmo com a escrita e a leitura. Tenho vontade de ter uma sede inédita e fulgurante de palavras minhas ou de outros. De me deixar do jargão técnico e deambular, sem medo ou tristeza, por outros estilos e convenções. Ou mesmo sem regras nenhumas ou estilos indefinidos! Uma palavra, um parágrafo, uma página, um capítulo e um livro que se escorram pelo tempo e por mim fazem-me falta porque faço-me falta. Está comigo e quero que renasça; que eu renasça.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Why and how or The dawn

Why is it so? How does it go?

We feel but
                    we slumber
                                         (though we never yawn)

Wake up! Here is my 
                                  dawn.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Get rhythm when you get the blues (à la geek)

From Urban Dictionary ( http://www.urbandictionary.com ) :
geek
The people you pick on in high school and wind up working for as an adult
The geeky kid now owns a million dollar software company
So there's an excuse to what follows.
while("get the blues" == true) {
getRhythm();
}

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Morto

mas ressuscitável. (e não se chama Santana Lopes)