quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Tempestade ou voz?

Ruim, o desejo que assalta
Quando a perfeição das gotas se mostra
Pela janela, pelas roupas ou pela pele
A onda de fulgor, de tão grande, abate-se

Tens uma voz inigualável neste mundo
Enquanto ondulas pela presença
E deambulas pela ausência

Mas estás e és som, único

Lista ou rol?

Sabendo que sabes de mim
O que eu não sei de ninguém
Disparo balas de vácuo
Sem som nem rasto

Juntas e agregas;
mas poderás alguma vez ver sem sofrer?
Já o fizeste - sem dúvida - em tempos idos
Quando o equilíbrio não atingia o precário
E o papel era pano

O que fizeste e fazes é insubstituível
Como um pedaço de carne do meu corpo
E por isso não posso agradecer
Mas devo venerar, respeitar e viver-te

domingo, 5 de outubro de 2014

Número qualquer

Dois, três ou mil!
Que interessa ser ímpar quando se procura a paridade?
Querer ser primo e não ter hipótese
Ao dividir em pleno plano irregular

São números e são estrelas
Pequenos pedaços desenhados no firmamento cerebral ou na abóbada celeste

Somos nós!

Ruas

Ruas sujas, cinzentas e perdidas por entre vielas
Carregam aos ombros galerias de arte falsa
Ou há monos ou há obras-primas
Mas há sempre uma conversa de interpretação

Não interessa escutar e pensar
Mais do que entreouvir e retorquir
No meio de sons tão indistintos como sempre presentes
Sem possibilidade de reconhecer mas tão familiares

Passear de copo em fumo e brasa
Enquanto o chão vibra e o sono não assalta
Aumentando sempre o contraste entre o ecrã e o olho
Tentando nunca perder o brilho da luz difusa

domingo, 7 de setembro de 2014

Vida de ferro

Circulando pelo imaterial, sente-se única
Glória dos tempos de vapor que ainda sobe
Seja pouca gente ou muita carga
Acredita que cumpre com fidelidade a sua função

Não desprezo que o faça
Não suporto que o simplifique
Sem uma mínima explicação

Ponto e pressão

O toque gentil de uma conversa
Seca a boca de quem não se vê pleno
Desperta dúvida, com o ombro a suportar o olhar cauteloso
Efémero, afasta o desespero diariamente inútil

Aí estás e sofres
(não porque sofres mas porque assim te vês)
E aumenta-se o contraste ou pressão
Se baloiças de olho para olho um brilho diferente
Pois mostras outra face
(a das novas - quase não formadas - memórias)

E se retorno, espero e encontro
A rotineira escolha que não é só minha
Mas também não é a tua:
é um ponto dúbio, quiçá curva selvagem
Não é nunca só de alguém
Pode ser um dia de ninguém

Conforto

É (três vezes) cómodo e casual, o par que se formou
Será que sentiste a brisa calma que mal se levantou?
Ou passa por ti como uma partícula que se desconhece?

Estou em querer crer que não és imune
À espera pelo que aí vem
Mas sabe que se te sabes, pensa como quem o faz bem

Estranho

Sendo estranho sinto quem sou
Por onde passo, onde vivo e onde estou
Quero ser cidadão do mundo, com ele um

Luto comigo mesmo e não pertenço a lugar nenhum
Luto contigo, mundo, mesmo que não respondas nunca
Páro e recomeço, atirando-me a mais um poço sem olhar bem o fundo

Estranho - diferente ou deslocado
Perco-me na rede que me formei
E catalogo, acredito, mais um nó

Calor

Corpos de mil cores pintam uma época curta
Dobram-se em formas de luz plena e água tépida
Não perdendo nunca o objectivo
De sugar o sangue quente e viscoso do ar que condiciona

Pois quando arrefece, quebra
Sobrando só a lembrança daquela estação
Que insiste em demorar a voltar

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

No meio, a virtude

Se pensas que sabes que escrevo o que penso
Não sabes mais do que imaginas pelo que digo
E ao dizer confundo ou simplifico?
Não sei, mas aparentas saber
Será que pensas tão rápido e claro
Como a água de uma cascata longínqua

Duvido-te e duvido-me
Mas sei que muito tens e nada descartas
Mesmo quando o horizonte desaba

sábado, 26 de julho de 2014

Colapso mente voz

Destino inexistente tens tu, som comum?

Descendo pela calçada irregular e pulsante
Escorrega lentamente ao sabor da brisa de perdição
Proveniente da reflexão irreal
Produto de uma alucinação natural
Solta-se e sobe pelo ar
Ou prende-se e desce pelo poço da memória

Constante variável

Não sei se me contradigo
Nem se sequer faço sentido
Isso não me pára, mas devia
Nem que por um instante

para rever o que talvez uma vez tenha
visto ou
escrito ou
ouvido ou
descrito ou
sentido

Dedos ao vento

A força que sopra pela pele e osso
Satura de estrelas o breu inevitável
Remove as impurezas do nosso corpo celeste
E o sustenta sem piedade ou gratidão

Entre os espaços preenchidos de dinâmica aérea
Vivem moléculas perdidas de sabor
Mas plenas de vida
Curta, longa; desperdiçada, completa?

O eterno poder de decisão
Acalenta a mente
E sobressalta a alma que em mim - qual sôfrego - não existe

domingo, 29 de junho de 2014

Sete distâncias

Não sendo luz, tenho lanterna
Vejo com ela os passos que dás
A caminho do mundo, sem medo

Cais, levantas-te e sorris
Tens cada um à tua volta
Com uma precisão de amigo

Que não esquece

o respeito
a diversão
o fulgor

Sempre em frente, pedal a fundo!

Sem título

Suavemente tremendo
Nego o dúbio
Num piscar de olhos
Renego a tudo

E, moribundo,
Desfaço o que encontro
Nunca sem antes cumprir
O dever da ignorância

sábado, 28 de junho de 2014

A braços

Sempre de língua de fora
De baloiçar em elevar
Sorrindo sem dentes

Sem saber, crescendo, renasce;
E tritura pedaços de vida carne
Sem sangue que não o do mundo

A grandeza domina e logo
A criança se assusta
Mas o (seu) céu, um deles, não se verga

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Dusk and dawn

Dim lights paving the way
Wonder and joy sparkling all over
Here comes the night

And the darkness fades away
When the sun rises
Blessed bolt, awakening thunder

East and West
North and South
The center lies still as it always has and always will

Limbo

Baloiço quebradiço sem crianças
Girando sem parar pelo ar
Obedeces a alguém? Nunca!
Soltas-te em direcção ao Sol? Jamais!
E na eterna incógnita jazes
Pendurado e só

sábado, 14 de junho de 2014

Lá longe

Purificação pelo som
Distância temporal grande mas não eterna
Afastamento físico tão duradouro quanto efémero
Atenuação subtil da tristeza

Pequenas cordas, vocais ou entre latas
Seguram pontos de luz estonteante
E o murro no estômago da lembrança
Do tempo que foi e já não é (mesmo sendo ainda criança)
Não surge como opção nem fôlego

Pois há descanso na habituação
À tendência da morosidade e do sono
Desnecessário, impreciso - e logo inquietante

E a incerteza relança o fogo
Que não arde nem se vê
Acontece, apenas

domingo, 1 de junho de 2014

Contradições

É certo e mais que certo
Que dentro do errado está o inseguro
Trazer um não ao ar
Revela-se tão simples como lançar um sim ao vento
E num pedaço de fogo temperamental
Nasce água sem fim
Não há fumo nem acalmia
Não há montanhas sem maresia

domingo, 25 de maio de 2014

Sem cortina

Não há filtro no cigarro fumado depressa
Não há vagar nos raios de luz dispersos
Não há divisão possível que não seja um muro até à estratosfera

- Olá!
- Bom dia.
- Abres a cortina, por favor?
- Estas janelas nunca tiveram cortina!

Corners

A million corners exist for a thousand people
When the road each one chooses
Lies ahead with dim lighting

Oh, spinning world
So (too) much a rhombus with faint edges

Ser à vista

A lembrança e os sonhos de quem nos viu, mostrou ou acompanhou
A procura interminável de um lugar longínquo
A certeza da escuridão das luzes nocturnas da cidade
Quais itens de lista sem lembrete

Perante tal
e
Assim mesmo

Mostra e sê, ao longo do tempo
Quem à vista desarmada és
Esconde a tua opacidade na luz
E não pretendas que és pleno de faces escuras

Funil

O líquido que escorre pelo plástico
Endurece até não mais poder
Sabe quem é na sua sua solidez
E pertence a si mesmo

Cada cabeça, cada funil

domingo, 13 de abril de 2014

Marcha

Desalinho rápido numa troca de olhares ou palavras
És discórdia ou diferença?
Subtileza na qualidade e quantidade, celebremos o eterno e o efémero
Quando é importante

Quando (e se) estremece

Movendo montanhas e subindo escadas
Cada um a seu passo e, invariavelmente,
Com o seu ideal de cobertura estelar - para lá de universal
Celebram-se momentos e prestam-se tributos
Transformam-se outros e deixam-se marcas inolvidáveis
Não há mais que o acaso, para mim
Respeito-te: para ti, é(s) a tua fé

Quando quando quando

O toque subtil das palavras levanta um véu de incerteza
À medida que detalhes se revelam e peças encaixam
Duvido; acredito; quero; nunca; sigo; páro

A nudez é assaltada pela roupa que pode servir
E até ficar bem, por uns quaisquer padrões aleatórios
Mas quando se mergulha, para que são precisos acessórios? 

Escolher palavras

Dizer que é estúpido é desnecessário
Tal como infeliz pode ser irresponsável
Mas ou claro - porquê ou pois

Não desde criança, pelos que o educam
Silêncio de adolescência, como assim?
E o sim no futuro ou a incógnita

Quando há o dizer de acreditar e acreditar que dizer
Vem a certeza que os os dias continuam

12

Não há diferença entre este e o próximo
São
12 voltas
12 toques
12 passos
Tempo para respirar o ar daqui ou
de longe (de memória ou frasco)
Cozinhar sem esforço
                       nem primor
Um vício, ou dois, para mil
Durante e perante
12

Custo de vida

Quanto custa navegar por estas águas?
Basta uma licença, um barco e vontade?
Provisões, bons ventos e pretensões?

Pergunta! Pergunta!
E agora responde:

atravessar um oceano custa tanto mais quanto menos cais (em ti)
se é nisso que acreditas, não faças a viagem
nunca te descobres se não te tens como tu
sê completo na tua finitude
seja ela o mundo ou a perdição

Onde? Longe

Saudades encapsuladas em distância
Em telefonemas curtos
Em vídeos sem toque nem cunho
Cortam sorrisos próximos

O que se evita incomoda por vezes
Quando se padece momentaneamente
Da doença da falta, da distância, do toque

Traçado um rumo, não há vacina nem cura
Fumos ocasionais, em desespero ou em sinais
Raios de Sol que aquecem por dentro mesmo com a (própria) pele dura

Estilo de vida

Perdido em ruas, o ar e aspecto e visão
Surge

pedante
radiante
preocupado
aberto
feliz
contente
perdido
achado
esbanjador
poupado
infiltrado 
exposto

Temporário? Inconstante

Castelo

Os elementos assustam quem os enfrentam
E assim construir serve de caminho
Outros, porém, confiam na direcção de destruir
De que vale proteger quando não se pode atacar?

O constante balanço entre frente e retaguarda
A instantânea desilusão do eterno meio das tropas
Há conforto e valor, espada e escudo

Uma amálgama de olhares sobre e em cada castelo

Valley

Oh valley, sweet valley
Why do you hide between the mountains?
If I were shaped as you
Would I feel the warmth of the sun?

When the light shines and strikes directly
Do you believe it will last forever?
Can you capture the beams through the mountains?

Mountain, valley, mountain
There are no plains lying around
For us to stay (put)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Próxima paragem

Momento de conclusão temporária, quando chegas?
Quando darás lugar a um novo alento?
É eterno o teu vagar?

São ciclos de longas passagens
Com (in)finitas - refrescantes ou frustrantes - paragens
Balanços coordenados interrompidos por viagens

domingo, 19 de janeiro de 2014

Be

Be free
Be wild
Be gentle
Be kind

Follow the river named
(by and after you)
Caress the stream
Draw your path
Make it to the banks when you need

You are what lies between
The mountain top and the base of a hill
The ground and the stars
You and yourself, many years from now
Be, forever, unique