domingo, 29 de março de 2015

Expectativa

Pode-se ou não se pode esperar pelo se
Não há meio termo na esperança fútil em que nos banhamos
Constroem-se apenas castelos de cartas de areia que vemos e derrubamos

E quando o quase assalta, ou se tenta ou se desiste
Se esperávamos o bom/mau e vimos o mau/bom
Há a luta interna de cada um
A gestão da preferência
O pendor pela inutilmente alta
Expectativa

Luz amarelada

Almas perdidas no meio do fumo
Das que existem num corpo ou fluem numa mente
Não as sinto - nem nelas me revejo - por não fazer parte de tal conspiração

Mesmo assim e assim mesmo, sou e reconheço-me no mesmo ambiente
De sabor variável e balas disparadas do ar
Que perfuram lentamente o crânio dançante

O futuro está presente e o passado é agora
Num momento só em que não há uma bengala dourada
Sobra só o torpor inacreditável dos raios catódicos

Não sei se vou por essa rua sem pensar duas vezes
Mas penso nada enquanto faço de mim boneco típico
De uma cidade que sinto tão minha e carismática como cinzenta

Espero que não percebas; não quero, no entanto, subtilezas!
Preciso de mim sem mim como agora, assim
No meio de uma sala escura de luz amarela

E se há sacanas dessa ou doutra - qualquer - cor, que venham
Invadam sem piedade o espaço enevoado
Pois se vêm sacanas, também se verão anjos

Do rebuliço que quero saber se quero ou se pelo menos sei que posso
Quando o tenho ou não tenho pelo não ou pelo inércia
Sinto falta e deambulo pelo quotidiano tépido

domingo, 1 de março de 2015

Felicidade transitiva

Operação momentânea de alegria ou dor
Seja pela linha temporal ou pelo acaso espacial
O éter irreal que invade o sonho é nosso
Por contágio positivo ou antítese espiritual

Palavras de veneno

Dito o triste com ironia
Sobe para cima o cínico com alegria
Da janela a mensagem é podre, vã e vil
Tão sincera e simples como dolorosa

A seiva que escorre do discurso
É tão pobre quando o rol é estéril
Ou rica quando mel goteja da língua ondulante

O veneno, esse,
Seja bom ou mau
Com ou sem antídoto
Está sempre presente

Vista ligeiramente diferente

Vê como vejo: consegues?
Duvido e acerto na dificuldade
Percebo uma fracção de ti
Deixo de lado uma parte tão clara como escura

Quero saber mais, sim;
Mas estranho-me por vezes
A volta que dou e que me é cara
Ilumina de relance apenas

E tu, quando vês, procuras?
Não sei se sim, se alguma vez ou porventura
Mas sei que não vemos o que somos a não ser de esguelha
E que sabes que é confuso o futuro que procuro encontrar